domingo, 2 de março de 2014

Cabo Verde e Brasil, encontro entre culturas



Foto: Davi Pinheiro

Alegria foi para mim participar da Feira da Palavra 2013 em Cabo Verde e conhecer esse país do qual antes eu só ouvira falar, que era o portal africano pelo Atlântico, ou o meio do caminho até a Europa daqueles que partem da América do sul. Arquipélago de dez ilhas, a cultura e as belezas naturais também foram assuntos de breves conversas nos corredores da Universidade Federal do Ceará, para a qual muitos cabo-verdianos têm ido estudar, aprender profissões para então regressar e ajudar a terra natal. Belo sentimento e propósito que eu não poderia deixar de admirar na minha primeira visita.

Surpreso fiquei de poder pegar um voo direto a partir de Fortaleza, e apenas três horas e meia depois desembarcar na capital Praia, a mesma distância de um avião até São Paulo. No assento da TACV, a matéria de capa da revista Fragata mostrou que ainda mais comum era o caminho inverso do que eu fazia, não só pelos estudantes intercambistas, mas pelas “rabidantes”, ou sacoleiras como diríamos aqui, que revendiam no país produtos e tendências adquiridos no Brasil, importando até o hábito de assistir às telenovelas. Com uma comitiva de artistas cearenses, desembarcamos no Aeroporto Internacional Nelson Mandela no dia 4 de dezembro, exatamente um dia antes do falecimento do estadista sul-africano. Obtivemos um visto de cortesia do Ministério da Cultura de Cabo Verde; recebemos a triste notícia durante um saboroso jantar de espetada de atum fresco e percebemos na atmosfera e no semblantes das pessoas a emoção pela passagem de Madiba aos 95 anos, e do que sua vida e atividade política representam para a África e para o mundo.

Como músico e comunicador, eu me senti honrado em representar a cultura do Brasil nesse evento, do qual participei com uma atuação musical na Praça Alexandre Albuquerque, no Plateau, emoldurado por um gigantesco cartaz com o rosto de Mandela. Apresentei um repertório com o violão de seis e a viola de dez cordas, instrumentos vindos da herança que brasileiros e cabo-verdianos compartilham do colonizador português. Trazia na bagagem um concerto de música instrumental, sem palavras, mas que muito diz, pois sabemos a força da música e de como ela pode ser ponte entre as nações. De como o balanço do chorinho pode estar na coladeira, a saudade nostálgica está tanto na morna como no samba-canção. Fui aplaudido pelo arranjo de “Sodade” que fiz no violão, pois muitos de nós deste lado do mar também apreciamos a voz de Cesaria Évora.

As semelhanças entre nossos povos pude confirmar no sorriso aberto e hospitaleiro, na visita ao Museu Etnográfico Nacional após uma agradável caminhada pelo calçamento da Pedonal, rua exclusiva para pedestres no centro da cidade, e um tour que fizemos à Ribeira Grande de Santiago, a Cidade Velha, entreposto dos lusitanos. Curioso: à medida que abri mente e espírito para conhecer Cabo Verde, mais eu descobri sobre o meu próprio país. Que outros brasileiros possam ter a oportunidade que tive para viajar até a África, continente onde está muito da nossa origem cultural.


Marco Leonel Fukuda
Músico e comunicador


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Cabo Verde - Praia
Cabo Verde - Ilha de Santiago e Tarrafal

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