domingo, 3 de junho de 2012

Gracias a la Violeta


A abertura da 22ª edição do Cine Ceará (Festival Ibero-Americano de Cinema) aconteceu na noite da última sexta-feira, 1º de junho de 2012, no Theatro José de Alencar em Fortaleza. O evento escolheu como tema "As lutas sociais na América Latina" para nortear a programação de mostras competitivas de curtas, médias e longas metragens, seminários de audiovisual e oficinas até a sexta-feira seguinte, dia 8 de junho. O homenageado da noite foi o ator pernambucano Marco Nanini pela bem-sucedida carreira no teatro, no cinema e na televisão. Logo em seguida, houve a premiação da turma de jovens realizadores de cinema de animação do Cine Coelce (Companhia Energética do Ceará), uma das patrocinadoras do festival. Para brindar a festa, foi exibido o magnífico filme "Violeta foi para o céu" (Violeta se fue a los cielos, Chile, 2011).

O filme, dirigido pelo cineasta chileno Andrés Wood, estreou no Brasil nessa sessão realizada na abertura do XXII Cine Ceará. O diretor, presente na cerimônia de abertura do festival, declarou que o filme era uma tentativa de retratar a vida interior e a obra da poetisa, cantora e compositora chilena Violeta Parra (1917-1967). A cinebiografia foi adaptada do livro homônimo escrito por Ángel Parra, filho da grande artista chilena, que, ao lado de intelectuais como Pablo Neruda e Isabel Allende, apresentou com orgulho e dignidade a rica cultura do Chile para o mundo.


Além da história emocionante de Violeta Parra, o palco principal do centenário Theatro José de Alencar emoldurando a tela de projeção cinematográfica foi um espetáculo à parte. Abertas as cortinas do teatro, desligadas todas as luzes, fomos todos transportados para o Chile de meados do século XX. Vivenciamos ao lado da protagonista Violeta - interpretada pela atriz também chilena Francisca Gavilán - a dor da separação de dois casamentos frustrados, da morte de uma filha pequena, a luta pela afirmação da arte e da cultura popular, folclórica latino-americana, ousemos dizer. Ela viaja até Paris para apresentar no Louvre obras de pintura, tapeçaria, escultura de tendências naïf. Na bagagem, também foram músicas de Parra, que passaram a tocar em várias rádios estrangeiras.

Como a vida da própria Violeta, o filme é entremeado por músicas belíssimas, que emocionam por falar da natureza, das paisagens chilenas e dos sentimentos humanos. A película apresenta uma musicalidade magistral do porte da Cordilheira dos Andes e ampla como o Deserto do Atacama. A voz de Violeta vem da profundidade da alma, reverbera pelas montanhas e planícies do nosso continente, combinada com o toque rústico e firme do violão, do tambor e do charango.

"Gracias a la vida", um dos maiores sucessos da compositora, que conhecemos pelas interpretações das fantásticas Elis Regina (1945-1982) e Mercedes Sosa (1935-2009), só toca nos créditos finais. Os espectadores têm a oportunidade de conhecer outras obras-primas de Violeta Parra, e se encantarem com passagens da vida dessa artista versátil, criativa, sentimental e impulsiva. Violeta é uma parreira fértil, ostra de muitas pérolas, canções feitas "em um sentir profundo", "em instante fecundo", como diz a letra de Volver a los 17 (vídeo abaixo)


A seguir, o trailer do filme "Violeta se foi para o céu" (2011), dirigido por Andrés Wood:



Leia mais
Fundación Violeta Parra - www.violetaparra.cl
Mercedes Sosa - Gracias a la vida
Mercedes Sosa e Milton Nascimento - Volver a los 17


Marco Leonel Fukuda
Músico e estudante de Jornalismo

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