quarta-feira, 25 de abril de 2012

Energia Atômica no núcleo de um dilema

 Imagem: www.brasilescola.com


Em março de 2011, o vazamento nos reatores da usina de Fukushima, no Japão, chamou novamente a atenção do mundo para o problema da energia nuclear. As cenas na televisão mais pareciam as de um daqueles filmes apocalípticos, mas a realidade era dura mesmo, comparável com a ficção de um roteiro original: um terremoto seguido de um tsunami causaram juntos toda aquela paisagem de destruição. Avistava-se de longe, pelas câmeras das agências de notícias, uma densa fumaça radioativa, danosa para qualquer forma de vida. Esse acidente nuclear foi mais uma difícil prova da força da natureza, agravada pela ação do homem, que não domesticou a energia atômica, como o fez com o fogo há milênios.

Enquanto a mídia internacional noticiava e espetacularizava essa catástrofe natural e atômica, os chefes de Estado na Europa e na Ásia traçavam planos emergenciais para a revisão das suas matrizes energéticas. A população ao redor do planeta se afinava ao coro de protesto dos ambientalistas contra o enriquecimento de urânio radioativo e a favor das energias renováveis. Vinte e cinco anos após o desastre de Chernobyl, a diplomacia e a opinião pública mundial se viam novamente falando dos perigos da energia nuclear. Entretanto, no Brasil, apesar da numerosa comunidade de descendentes de japoneses, os governantes pouco se manifestaram e até mantiveram o projeto de construção da usina Angra III, ao mesmo tempo em que em todo o mundo outras usinas nucleares estavam sendo desativadas.

O projeto brasileiro de energia nuclear tem raízes no tempo da ditadura militar, no mesmo contexto das crises do petróleo da década de 1970. Naquele momento, investir no Pró-álcool e na produção do etanol era uma boa saída para um combustível renovável, em um país que, desde o período colonial, tivera na cultura da cana-de-açúcar uma importante atividade econômica. Por outro lado, incluir a energia nuclear na matriz energética era um capricho, como se o País quisesse copiar os países desenvolvidos e se afirmar no contexto geopolítico da Guerra Fria. Os generais ditadores, cegos pelo suposto “milagre brasileiro”, não pensaram a longo prazo e começaram a enriquecer urânio, em um país já tão rico em recursos naturais e em potenciais de geração de energia.

Era a época de Itaipu, da maior hidrelétrica do mundo, do delírio de construir a rodovia Transamazônica, e as duas usinas de Angra dos Reis entraram no mesmo pacote de obras para a “soberania” e a “integração nacional”. Não houve ponderação sobre os riscos da energia nuclear, esse fenômeno físico que tanto fascina o homem, mas decepcionou Albert Einstein quando viu a cruel aplicação das pesquisas dele na Segunda Guerra Mundial, no extermínio instantâneo de 200 mil pessoas nas bombas atômicas de Hiroshima e Nagasaki. Como uma fonte de energia com esse histórico pode ter fins pacíficos?

É de Einstein a célebre frase de que vivemos em uma época em que é mais fácil quebrar um átomo do que um preconceito. Por isso, é fundamental discutir os impactos ambientais da energia nuclear e questionar o modelo de desenvolvimento que está posto, principalmente em termos energéticos. Precisamos considerar criticamente os custos e o risco do armazenamento ad eternum dos resíduos nucleares, e de como há um desequilíbrio ecológico em toda a cadeia produtiva desde a extração dos minérios radioativos até o constante perigo de contaminação do meio ambiente.

As autoridades brasileiras precisam aprender a lição com a história dos desastres nucleares, episódios que marcam essa falta de controle e de previsibilidade desse tipo de energia. Avaliando a dimensão trágica desses eventos, é que se pode orientar as políticas públicas para a diversificação das fontes de energia. Para que dependamos cada vez menos de energias insustentáveis como os combustíveis fósseis, o petróleo e o carvão, para buscarmos a combinação da energia renovável da água, das marés, dos raios ensolarados e dos bons ventos que sopram com fôlego no litoral brasileiro.

Marco Leonel Fukuda
Músico e estudante de Jornalismo

  

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