quinta-feira, 31 de março de 2011

As Rabecas do Ceará ressoam no Centro de Fortaleza







Cris Lima e Marco Leonel Fukuda


A exposição “Rabecas: Luteria e Performance” do fotógrafo Francisco Sousa e curadoria de Gilmar de Carvalho está em cartaz até o próximo sábado, 26 de março, no Espaço Cultural Correios, no Centro de Fortaleza. A exposição traz fotografias de mestres rabequeiros de várias regiões do estado do Ceará, nas suas práticas de construção artesanal de rabecas e de performance desse rústico e tradicional instrumento musical.
Rabecas: Luteria e Performance” é resultado de oito anos de pesquisa de campo independente de Francisco Sousa e Gilmar de Carvalho, com muitas viagens pelo interior do Ceará, em busca de uma fotografia documental e artística que evidenciasse a presença da rabeca em todo o Estado. A temática das rabecas surgiu de um interesse, de uma curiosidade dos pesquisadores em encontrar rabequeiros para além dos dois únicos cearenses do ramo com visibilidade na mídia até então, os consagrados Cego Oliveira de Juazeiro do Norte e Cego Aderaldo de Quixadá. A exposição é a segunda etapa de um ousado e sólido projeto de investigação cultural, que, em 2006, levou à publicação do livro “Rabecas do Ceará” de Gilmar de Carvalho, co-autoria de Francisco Sousa, com entrevistas, fotografias e um CD de registros sonoros dos mais de cem rabequeiros cearenses catalogados. Mais recentemente, esse trabalho de pesquisa rendeu ainda mais frutos com a realização do I Festival Ceará das Rabecas, entre os dias 18 e 20 de março de 2011, no SESC Iracema, em Fortaleza.

Os rabequeiros retratados na exposição são oriundos dos quatro cantos do território cearense, dos Inhamuns à Ibiapaba, do Cariri ao Sertão do Canindé, do vale do Jaguaribe ao Sertão Central. Muitos deles são reconhecidos e diplomados como mestres da cultura, portadores de um conhecimento ou de uma técnica secular, significativas da identidade cultural de um povo, e resistem no exercício da sua arte, do seu ofício como luthiers, construtores de instrumentos musicais. Outros, há vinte anos não tocavam mais para animar festas de reisados, de São Gonçalo, de terceira idade, e, com a chegada de pesquisadores, tiveram um novo ânimo para retomar a prática de tocar rabeca. É nesse quadro que hoje persistem dificuldades, por falta de incentivo cultural do governo, pela programação massiva e descontextualizada dos meios de comunicação, em passar essa tradição adiante, para transmitir o gosto por ouvir e tocar rabeca para a juventude atual e para as próximas gerações.
Gilmar de Carvalho, jornalista, pesquisador de cultura popular e curador da exposição, avalia “A dificuldade maior, do ponto de vista curatorial foi fazer um recorte. O duplo aspecto: luteria e performance, pretendeu contemplar a fabricação, algo digamos, mais artesanal e na "linha de montagem" e o desempenho, o instante do show.” Além das fotos dos rabequeiros com as suas rabecas, tocando-as ou no instante de sua feitura, podem ser vistas no acervo da exposição rabecas construídas de matérias-primas inusitadas como panelas velhas e canos de PVC. O trabalho de curadoria buscou aliar, de maneira didática, as fotos de Francisco Sousa, exibidas ampliadas na parede, com uma mostra de rabecas em redomas de vidro e um documentário da execução musical dos rabequeiros projetado nos fundos da galeria.
A exposição fotográfica “Rabecas: Luteria e Performance” é uma imperdível programação para os interessados na cultura popular brasileira, em especial na cultura regional nordestina, cearense, e tem a previsão de visitas guiadas com alunos de escolas de ensino fundamental. O público terá acesso a uma exposição de consistência, de pesquisa séria e continuada, de apuro curatorial e de alta qualidade artística.
Serviço

Rabecas: Luteria e Performance” pode ser visitada pelo público de segunda a sexta de 8h às 17h, e aos sábados de 8h ao meio-dia, na rua Senador Alencar, número 38, no Centro de Fortaleza.
Informações: (85) 3255-7263/ ceascom@correios.com.br / www.correios.com.br
Curiosidades

O Espaço Cultural Correios, localizado no Edifício Sede dos Correios do Ceará na Rua Senador Alencar, 38, no centro da cidade de Fortaleza, foi inaugurado no dia 5 de agosto de 2005. É uma galeria de arte com um ambiente climatizado de 100 m² dentro do espaço físico de uma das principais agências dos Correios na capital cearense.
O Edifício Sede dos Correios do Ceará, que abriga o Espaço Cultural Correios, foi construído em 1932.
Fotos desta postagem: Francisco Sousa

Para saber mais:
http://www.correios.com.br/sobreCorreios/educacaoCultura/centrosEspacosCulturais/ECC_CE/ECCCE_Programacao.cfm

http://www.correios.com.br/sobreCorreios/educacaoCultura/centrosEspacosCulturais/ECC_CE/default.cfm
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Este texto é resultado de uma atividade didática proposta pelo professor Edgard Patrício, da disciplina Introdução às Técnicas Jornalísticas - Módulo Jornalismo Impresso, do 3° semestre do curso de Comunicação Social / Jornalismo da Universidade Federal do Ceará.


O planejamento e a produção de pauta, além da realização de entrevistas, da coleta de informações e da escrita deste texto foram processos da atividade jornalística integralmente realizados por Cris Lima e Marco Leonel Fukuda.


Cris Lima
é estudante de Jornalismo da UFC e de Cinema e Audiovisual da UNIFOR.
Marco Leonel Fukuda é músico e estudante de Jornalismo da UFC.

Links relacionados:
Entrevista com o professor Gilmar de Carvalho aqui no blog Cultura Ciliar

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